terça-feira, 16 de junho de 2015

Manning Up

Eis um eu. Aqui. Reformulando lembranças de Barros. Invento argumentos, elaboro explicações, me ensino a retomar da memória corações.

Quando entrei no meu colegial, a natureza militar não me permitia muitas oscilações ou demonstrações de personalidade. Na época, apenas os rapazes podiam estudar em tal colégio, era um ambiente impregnado com testosterona e tudo de ruim ligado ao másculo.
Sempre gostei de jogar bola, por pior que eu fosse. Boas defesas e belas espalmadas, diziam os colegas. Sempre atuei como goleiro, ou no máximo na zaga.
É engraçado como ao olhar para trás começamos a usar palavras como "sempre". As frases vão se encurtando, também.
Nunca me esquecerei de um professor que tive - Todos temos professores que nunca esquecemos. Que sempre lembramos. Que tentamos nunca/sempre esquecer - Ele ensinava inglês, matéria na qual sempre fui terrível.
Em uma determinada aula, um aluno medíocre - como eu - perguntou o significado da expressão "man up" - engraçado pensar em como essa expressão soa errado nos lábios de um leigo - o professor - por mais que tente não me recordo seu nome - explicou bem rapidamente: "quando você descobre suas próprias bolas". A sala inteira riu.
Acredito que motivado pela gracinha a aula da semana seguinte foi baseada em "se tornar um homem". Um tópico terrível. Deveríamos escrever uma redação em inglês - o que já me assustava em todos os níveis possíveis - sobre o momento que nos tornamos homens. Era esperado que a essa altura do campeonato já estivéssemos com culhões bem formados e prontos para começar uma família.
Eu me lembro de todas as palavras que pus naquela redação.
Meu pensamento foi: "Estou saindo daqui, mas eles se lembrarão".
É tudo uma questão de memória. Eu tenho certeza que ainda se lembram. De pé junto. Back then.

When I was seven, I have this cousin. He was 11. I remember him well. He was used to visit my house, my aunt worked a lot and he must stay at my house to wait her. We were friends, we played a lot of games, we hunted butterflies or little bugs in the garden. We used to roll the "armadillo-balls" and play with them. 
Then my mom started to make things outside more often. And we started to get alone by ourselves. Most of the times it was just half afternoon, until 7 p.m.. One day, he told me that he had falled in love for some girl. I couldn't understand what that meant completely. I knew it, in a weird way, that I was kind of jealous and excited at the same time. Day by day he told me the little details, how pretty she was, how smart she was, how he managed to get a flower as a gift to her. In some moment he told me how he felt when he met her, the way that his body reacted to her beauty, the reactions that happens below his waist. 
I remember that was the night that I first came. My sheets got dirty. I might became a man that day, but I don't consider that my turning point. That evening I was alone with him, I told him what happened. He explained what that thing was... I wasn't sure, I thought it was pee or something. But he told me that the way I described it wasn't pee at all.
Mas isso não pode ser... Eu não gozei até atingir uns 15 anos de idade, mais ou menos...
Talvez o último parágrafo tenha sido diferente:

I remeber that was the afternoon that he first told me about masturbation. How he got his sheets dirty after some especific night He might became a man on that shitty night, but I don't consider that his turning point. That afternoon, the one he explained me those things, I was alone with him. I wasn't sure if I really understood, I thought it would be similar to pee or something. But he told me that the way that sperm goes... It wouldn't be pee at all.
I was curious, I decided to try harded. I moved my hands as he told me so. I said that I was practicing many time when nobody was looking, he laugh. I felt a warm and sweet feeling after he smiled at me. He was four years older than me, but it looked so more at that time. 
One day, he brought home a playboy. I was fascinated by those girls. We were at my room, door closed. My mom had left to do something. He asked me if I would mind. I didn't. Of course not, it wouldn't be bad, right?
Nesse ponto eu não lembro como terminei minha redação. Posso me basear nas minhas próprias sentenças, em meus descriminados momentos. Mas não sei como pus tais palavras em ordem, tais momentos construídos em afronta ao colegial, ao patriarcado militar.
Naquela noite me tornei um homem, eu continuaria me tornando um homem por muitos anos a fio, até chegar aos 9 anos de idade mais ou menos. Meu primo me mostrou o que eu sou, como eu gostaria, do que eu gostaria, porque eu gostaria. Todas as repetições, propositais ou não. Não havia amor, a não ser que você considere a matéria da carne material para canções apaixonadas.
Eu violei meu corpo. Ou talvez ele tenha o feito. Não sei quanto consentimento era possível ser dado naquela etapa da minha vida. Também não sei quão traumatizado com essas cenas eu me tornei, a ponto de rir de mim mesmo, de tornar uma revolta, de humilhar instintivamente como fui humilhado. Ou talvez eu não tenha sido humilhado, talvez eu tenha gostado. Certamente eu gostei.
Não havia tanto medo assim, não depois de algum tempo. Tanto se acostuma-se quanto se aproveita. Ou será que era comodismo?
A memória falha a ponto de não nos deixar a certeza de nossos atos.
Eram meus atos?

Eu fui advertido e suspenso depois de escrever a redação.
Às vezes, quando me questiono sobre aquele tempo, me retomo à pergunta "Man up?"

Eis um eu. Aqui. Reformulando oleiro de mim mesmo. Reescrevo memórias, elaboro novos homens, me ensino a retomar às tripas.
 LucasEx
 

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