sábado, 31 de agosto de 2013

'Ciúmes' = Vem de cimento? 'Inveja' = Veja lá dentro?

Quando eu era mais inocente, confundi ciúmes e inveja:
"Mas... eu fico com ciúmes quando você sai e eu não."
Me corrigiram imediatamente.
- Isso é mais inveja, ciúmes é outra história.

Ainda hoje me confundo em conceitos tão simples....
Olho, penso e choro (por raiva ou por amor)...
Me pego tendo inveja desses ciúmes que me cercam a alma, o coração e a mente....
Me abstraio em um ciúmes doentio que não passa de uma inveja velada pela possibilidade....

Quem é você?
- Um invejoso mascarado de ciumento.

J:oNE:s

domingo, 25 de agosto de 2013

Carta àquela que sente

Belo Horizonte, 25 de agosto de 2013.

Minha linda,
Como você vem andando? O peso em seus ombros está mais leve? Seu rosto mais aliviado?
Sinto falta de sua presença. De me deitar com você durante uma tarde cansativa, e acompanhar sua leitura atenta de algum livro típico do romantismo.
Me criam saudades ao pensar nos dias em que voltava com você pra casa, e a chuva caia lá fora... Enquanto nós nos beijávamos nos embaçados vidros de seu carro.
Acho que me sinto só ao encontrar todos abraçados, todos encantados.
 Me deparei com uma cena maravilhosa hoje... na verdade uma paisagem. Era um ponto alto, num edifício abandonado... foi impossível não pensar em dividir, todas aquelas luzes que se acendiam em meu olhar, com você.

Você se lembra? Daqueles dias que, ao anoitecer, eu batia em sua porta... Relutante ao atender, abria só uma fresta de porta... Eu te tomava como minha, abrindo todas as portas com vigor, uma quase violência. Entre beijos, arrancava peça por peça. Suspirávamos, como um código. Enquanto eu tirava minhas amarras, você punha uma música para tocar. Algo melancólico... Não lembro quem cantava... Nem mesmo a língua que era cantada... Não importava: Era nossa canção. Por um instante parávamos, eu tomava um gole de água e enquanto o chuveiro começava a esquentar. Até o vapor tomar conta de todo banheiro... A música fazia sentido. Eu te agarrava, te tomava como minha, te possuía até você não entender onde nós começávamos e onde eu fingia acabar. No escuro da noite, adormecíamos no box depois de suas lágrimas se misturem com a água que ainda escorria de nossos corpos.
Eu sempre fui embora antes do amanhecer. Antes de seu despertar. Antes de me despedir. Entenda, minha linda, o fiz por amor. Para seu descanso, seu descobrimento, sua cura.

Eu te amo. Sinto que não sou correspondido.
Não me importo, sempre estarei contigo. Amar é te encontrar inadequadamente surpresa por me ver.

Com carinho,

Seu sofrimento.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Por não ter ligado os pontos

Guto olhava as estrelas do lugar onde as outras crianças não olhavam.
Ele se sentava ao fundo, diferente daqueles que preferiam se sentar nos bancos mais altos... ou no banco do carona.
De lá, ele se sentia mais vivo ao ver as luzes se movimentando na mesma velocidade em que ele estava.
Não se tratava de insegurança. Era uma questão de cuidado. Cuidado com os outros, já que sua cabeça batia no vidro constantemente, devido às bruscas curvas e chacoalhes.
Guto mirava com seus dedinhos as estrelas mais brilhantes. Ligava-as pelo suor do vidro. E brincava de labirinto com a lua.
Sem ligar pros outros. Ele atingia sua completude.


Um dia, na adolescência, se encontrou num viaduto.
Sozinho?!
Olhando para lua, que parecia tão distante. Tão desolada...
Não havia estrelas.
Brincando de projeção, se fez ao longe.

Se viu caindo pela ponte... na via movimentada.
Vitima de atropelamento por um ônibus intermunicipal.
Encontraram um cadáver preso nas rodas traseira.
Ainda tentam descobrir a causa da morte:
Esmagamento espiritual por ilusão,
Ou falência múltipla de sonhos.

Gustavo ainda tenta encontrar a causa de sua morte.


---o´nes

domingo, 18 de agosto de 2013

Kids? why?

Tinha um casal. Ela se segurava no braço dele, com ternura e intimidade, confiando em seus músculos para não cair. Ele se preocupava em deixá-la encantada com gentilezas e educações. O filho, havia um filho, não se preocupava. Nem com os pais, nem com as senhoras.

Uma moça, que se declarava alta, se prestava a se levantar por uma mulher com criança no colo. Depois se senta novamente e carrega dois seres desconhecidos... um de seis anos em seu colo, outro de seis meses em seu ventre.

Três rapazes conversavam e se comparavam. Na amizade instantânea que apenas o fanatismo desperta, se divertiam discutindo em quais pontos eram melhores no futebol. Com a experiência de um técnico ou de um comentarista, citavam pontos específicos a serem aperfeiçoados e em quais já haviam obtido excelência.
Minto, um falava. Apenas um se vangloriava, os outros concordavam com a cumplicidade das amizades duradouras. Ambos com bebês no colo, acertados, passados, frustrados (?!) comentavam as peripécias do exímio jogador que acabaram de conhecer.

Um pirralhinho era agraciado pela mãe com carinhos de memórias passadas. Ele gargalhava, em plena sintonia, das palhaçadas acordadas pela matriarca: "Promete não gritar?" "Prometo!!" e cosquinhas arrancavam injúrias de infância.

Não era apenas um, seu colega chegou e se alocou ao seu lado... Criando na imaginação dos pequenos, uma nuvem... Não qualquer nuvem:
Um doce e colorido paraíso, tingido de tons de rosa, lilás, branco e azul.
Os vendedores de algodão doce criavam um mundo mágico, onde os sonhos tomavam formas, entre a partida do ônibus até o desembarque final.

Jones, by bus.

sábado, 3 de agosto de 2013

Mais que um Todo.

Ele não precisa ser um príncipe encantado, um eterno namorado, que não canse de esperar.
Não,
Ele pode ser um petit prince, poeta de vida, entendedor de olhares e dizeres.
Ele pode ser um Felipe, que me acorde quando eu esteja dormindo. Não com solavancos, mas com o afago de alguém que luta com dragões diáriamente.
Ele pode ser um entendedor de putas, que encontre beleza nas palavras, que escreva com muitos dengos, destinos e neologismos.
Ele pode ser um sem nome, que apenas arrebate-me e me leve junto. Ou então, o terceiro poceiro, que chega do nada, que não me traz nada, que nada me pergunta... mas que eu entenda o que ele quer.
Um que tenha o jeito manso... um que seja só dele. Que me deixe maluco, e quase me machuque quando me roçe a nuca com a barba mal feita...
Um que dure às coleras, ou à cem anos de solidão.
Um que seja de Chico Bento, que enamorado me deixe pelos olhos. Sem toques.
Um que me dê Pilar, e tenha um gato chamado gatinho.

Não me venha com amores de Romeu, nao quero paixões infanto-juvenis. Quero amores indianos, quase tântricos, que deixem a chaleira esquentar ... por longos períodos de metamorfose ... e que me sirvam um chá... com gosto de amargor.

Meu, e eu preciso dessa posse, amor não precisa ser fiel. De fiel em fiel arranjamos um fio - de contas - de mentiras. Meu amor precisa ser leal.

Que me goste de conchinha, pois reconhece na minha nuca mais detalhes do que eu mesmo. Que me goste por abraços, pois se entende como porto e farol. Que me goste em cafunés, na fricção de meu couro encontre alegrias.
Nesses carinhos, ele passará a unha na minha pele, enquanto eu leio algo maravilhoso. E eu não vou saber se estou arrepiado por seu gesto ou pelo meu livro.
Nao me refiro a aparências, quero alguém bonito o suficiente para que eu possa olhar sem parar. E que o sorriso mal caiba em seu rosto, quase vulgar.

Quero um pacto. Quero um voto.
  Quero tudo. Quero alguém que me faça não querer. Que seja o bastante. Que nenhum "que" seja cabivel.

De todos amores, um amigo.

Jones, ou qualquer outro.