quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

3 músicas - The darkest side




   Ele chegou gritando: "Amor!", respirou fundo e se lembrou da sogra, não tão ruim, que tinha. Teve lembranças de seus pais... Mas era tão confuso e tão pouco explicativo...
   Gritou novamente: "Amor!" e se lembrou da Gibson 335 que vendeu na juventude. Lembra de ter acabado com os sonhos paternos de ter um músico na família.
   Acendeu a luz, na verdade tentou... Na verdade ela já estava acesa. Seus coração é que se apagara. Jade estava lá, com um homem! Não faziam nada, além de conversar. Mas era de mais para ele.
   Ela o vê e pensa: "é o lado mais escuro do meu coração que morre quando você vem a mim." E ele atordoado, furioso diz em consciência própria: "É o bilhete dourado que eu ganho por matar todos nossos inimigos?!?"
   Ela aliviada e surpresa com a chegada repentina, não com essas palavras, fala: "Eu ouço o grito mais distante e o suspiro mais suave quando estou vazia."
   Ele se lembrou das vidas tristes que deixou, e da infância em jogos de simulação que foram trocados por simulações cirúrgicas.
   E num instante pequeno, que é o entre o chegar e o se instaurar, a mão estala no rosto de Jade. O homem, que antes conversava com ela, vai embora a pedido da mesma. Talvez ele fosse apenas um amigo.
   Ela pede: "When I die.... I'm alive"
   Ele sussurra: "When I lose, I find!"

   A identidade, que ele havia criado, se mostra na identidade, que ela havia revelado. Ou quem sabe ela só havia expressado.

   Pequena, começou a chorar quando pensou: "Se eu morresse no chão do meu quarto..." e Alex, como se ainda fosse conectado a ela como já havia sido, expressa um irônico: "Quer chorar no chão do seu quarto?"
   Como pudera cogitar fazer uma tatuagem com o nome dela embaixo do seu braço? Será que havia sido amor aquilo que vivera nos velhos tempos?
   O mesmo braço tatuado ia ao encontro de Jade, de formas que a própria violência desconhece. Formas que apenas os amores mais irados dominam.
   Sem reação pensava: "Ele foi condenado à morte nessa idade de ouro, para servir à pátria e para pagar nossa TV". As lágrimas de ambos... eram tantas... que a Garotinha dele se afogava naquela água lamacenta de ódio.
   Como um suspiro ela dizia: "When I die, when I die, die I'm alive.." E ele acabou com a súplica incessante: lhe dando a identidade, tirando, perdendo, uma/a vida.
   Eram aquelas nuvens de sexta-feira que ele não conseguiu ver além. Era aquele terremoto que o abalou por não ter mais chão a quem recorrer. Parado no canto do quarto ele pronunciou para si mesmo de forma confusa: "But if I leave me, I'd hello goodbye, don't shine at night, look I'm dead men."
   Ele cantarolou Home, como se voltasse para casa. Pois lar é onde ele estava com ela.

J(8)nes

sábado, 5 de janeiro de 2013

3 músicas - Hey there Delilah (2ª)

  "Hey there Jade,
 Como estão as coisas aí em casa? Seus pais estão bem? Vi uma foto sua hoje, antiga... Você poderia me mandar uma nova?
  Aposto que você está mais bonita do que quando eu sai daí. O Iraque é muito diferente das coisas que conhecemos, dos bons momentos que vivemos... Tenho que ser breve, parece ter havido um acidente aqui, nesses casos temos tão pouco tempo pra nós mesmo, não sobre nem tempo para beber água.
  Juro ser verdade, mas o céu daqui é o mais estrelado que existe... E você e seu sorriso brilham bem mais que os astros... os morteiros... todos juntos.
  Penso em você todos os dias. Sério, eu juro.
  Amo você, quero voltar para casa.
  
Alexander."


"Hey dear Alex,
  Não se preocupe comigo, eu estou aqui e estou te esperando. Se você se sentir sozinho... Olhe para o firmamento e eu estarei lá. Ou ouça as nossas músicas... Feche os olhos...
  Escute minha voz e veja além das nuvens. Eu estou ao teu lado.
  Também o amo, volte logo.

Jade"

  Ele via apenas sofrimento naquele desespero. Pacientes e mais pacientes com traumas e doenças. Não havia como ver além das nuvens. Ele desaprendeu a ver as essências. 
  Ela se sentia muito sozinha, ele não voltara, e as necessidades financeiras e femininas começavam a aparecer. Ela se punia, se torturava. Mas já não sentia mais seu melhor amigo, seu amor.


- Oh it's what you do to me...
- Oh it's what you do to me...
- What you do to me?


"Hey Jade,
  Eu sei que os tempos estão se tornando difíceis, mas acredite em mim Garota. Eu irei pagar nossas contas e vou fazer tudo que você sempre planejou. Teremos a casinha, os filhos e vou tocar violão enquanto você desenha.
  Nós teremos isso. E melhor.
  Nós teremos a vida que sabíamos que teríamos, minha palavra é de confiança. 
  Só me espere.

  Amor, Alexander"


"Hey there Delilah,
  Eu tenho tanta vontade de conversar com você, tenho tanto para falar. O sofrimento está me escorrendo a pele.
  Porque não responde minhas cartas? 
  Tentei te ligar semana passada, num horário que imaginei estar em casa, porque não me atendeu?
  Se cada simples palavra que você me escreve eu fico sem fôlego, queria poder ficar sem ar novamente. O ar daqui é pesado demais.
  Escreva-me, se não eu me sentirei traído.
  Queria lhe deixar mais apaixonada por mim, você sabe... Nós teríamos tudo...

Alex"

  Não lia mais as cartas dele, a dor era imensa. Não a que ele vivia na guerra, a dor de vê-lo amando-a.
  Se dava conta de que outro homem era uma forma Menos bruta de trair, do que ler e escrever injurias de amor em vão.
  Ele havia acabado com a auto-estima dela, e roubado seus mais precioso anos em troca de uma espera que poderia ser infundada.



- Oh it's what you do to me...
- Oh it's what you do to me...
- What you do to me?


"Hey Delilah,
 É minha última carta antes da próxima chamada para dispensa. 
  Existem inimigos se aproximando, estão a mil milhas daqui... O que para você pode parecer longe, mas eles tem aviões, carros e tanques. Além dos que vierem a pé. Esse é o grupo que oferece mais resistência aqui nessa área, E para ajudar, até eu já peguei em armas.
  Sim, eu matei pessoas inocentes. Nossos amigos ririam de nós, se esse fosse um tópico de conversas antigas. E você e eu iríamos rir, porque nós saberíamos. Sabemos que não somos os mesmo. A Jade que eu conheço não me deixaria aqui sozinho, abandonado, perdido.
  Delilah, a única coisa que posso te prometer é que depois de passarmos por isso, por tudo isso, o mundo nunca mais será o mesmo. E você é a responsável.

Alexander"


"Dalilah,
 Vou ser dispensado futuramente. Seja boa e não sinta minha falta. Daqui a pouco eu sei que acabará a faculdade e eu estarei aí para resolvermos nossos problemas como eu sempre fiz.
  Saiba as consequências do que fez na minha ausência, vocêsabe que fiz tudo por sua causa. E nós podemos fazer o que quisermos.
  Hey Delilah, here's to you... This one's for you"

  Ela chorou apertando o envelope contra o peito. E o jogou nas chamas cantarolando: "Oh it's what you do to me... What you do to me??"


Hey there, Jones


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

3 músicas - Home (1ª)


  Saiu do Alabama para visitar o Arkansas, sempre quis ver sobre o que se tratava a música que sempre gostou. Ela era bem humorada, espontânea, uma artista (e isso a descrevia muito bem) e cult (pelo menos estudava e se vestia como uma).
  Pegou as malas, aproveitou as férias e foi. Partiu para desbravar outro estado como se fosse um outro mundo. Só olhou para trás por causa de seus pais, os senhores já não estavam podendo ficar muito tempo sem serem regados pelo amor dela.
  Ao chegarem lá, ela e sua melhor amiga, a cidade se mostrou pequena de mais para a festa hipster que acontecia. Não era um evento... era uma festa interna, uma comemoração mais que pessoal. A conquista da saída da terra natal foi brindada, e curtida, e brindada, e fumada, e exagerada.
  Ah, naquela terra de doces achocolatados e pesadas tortas quentinhas de abóbora, a vizinhança era hostil e conservadora. A polícia chegou, com a ambulância, logo em seguida. As duas foram levadas para um médico.
  A cabeça da amiga estava cortada e a nossa protagonista estava ensanguentada. A origem desse sangue pode ser pelo corte da companheira de viagem, ou por um caipira descontente, ou por briga entre as duas. Disso a memória lhe escapava.
  O doutor logo veio, sem muita pressa. Antes de abrir a cortina ouviu a menina (que seria de seus olhos) falar: "Well, I fell on the concrete... nearly broke my ass..." Entre risos ela balbuciava o diálogo da canção que ele sempre apreciou cantarolar e assoviar.
  Abriu a cortina, e antes de se calar diante da beleza dela, o Dr. Alexander disse em alto e bom tom: "You are bleeding all over the place!", os demais no ambulatório ficaram sem entender a conexão que se estabelecia. Ela olhou sorridente: "Yes, that's why I rushed out to the hospital, don't you see that??" na nota certa entre a ironia e o charme. Ele consentindo respondeu o melhor "YES, I DO!" que ela ouviria até se casar e escutar as mesmas palavras tremulas de alegria.
Her:  Jade, ...
Him:  Alexander, ...

 
 Bons amigos (?!), foi isso que eles se tornaram. Nas horas livres que ele havia acumulado ao longo dos anos que trabalhava sem parar no hospital, ensinou-a a gritar para o nada, a imaginar o que correr nas ruas livremente pode significar e até mesmo viajar ao interior para mostrar a ela as cachoeiras e barcos, as vielas e becos, todos os lugares especiais para ele.
  Em troca, ela o ensinou a ver mais que a imagem pode oferecer, a enxergar a essência das coisas, dos parques... Como as florestas podem ser mais que florestas, contanto que na escuridão um casal dê risadas até quase morrer... A andar descalços no calor do verão.
 
 Ela fumou um cigarro, ligou para seus pais avisando o fim de suas aventuras. Estava voltando para casa sozinha (sua amiga já havia voltado há muito). E eles, aquele casal não pronunciado, se olharam enquanto ela fumava o último cigarro na presença dele. E ela se foi.
  Ele atordoado, sozinho, perdido sem a Garota de sua vida.Decidiu-se, moveu palitinhos, contatou pessoas e como resultado teve o Alabama como novo lar. Alexander passou as horas de viagem que possuía até o encontro de Jade, assoviando Home...