segunda-feira, 16 de março de 2015

Enquanto corria

Viajei por todos os mares,
oceanos de angustias e entardeceres.
Amores em cada porto, como ondas, a vida e tudo mais:
Marcas na pele.
Juntei-me em todas as manchas de sol e as fiz tinta - presa à pele.

A melanina, mais preta, mais sensível.
A tinta, que me caracterizava como saqueador de navios.
Formara uma âncora.
um Ferro.

Costumo descrever tal simbólica deformidade como instrumento.
Atiro todos os dias minhas experiências ao mar, na tentativa de me estabilizar. 
Afundo-me junto às expectativas e tento manter-me com os pés no chão (ou melhor, nas águas).
A tatuagem que me torna marinheiro, viajante, aventureiro... renega minha essência, pois seu significado tenta me ater ao fundo do mar. 
O paradoxo que me leva a navegar.
A necessidade que um objeto de ferro impõe ao navio de madeira.
A repetição: mar, navio, -ar.

Todos os dias, carrego minhas lembranças, mágoas, arrependimentos e pesos na consciência... Até abordar um inconsciente que me abarca.
Jogo essa liga ferrosa como oferenda a Iemanjá, como promessa aos santos, como revés ao destino.
Mas não a dispenso. Mantenho-a presa a barca.
Um lembrete: mesmo dura e pesada, minha história ainda é minha. 
Só posso pedir que me poupe, me sirva de porto, me apazigue.

No final do dia, me junto à boia da baía.
Quanto à âncora,
Junto cada sarda... E lá está ela,
O fardo preso ao antebraço.

Jone\|/s

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