Primeiro auscultaram o coração um do outro, entrelaçaram os braços e se grudaram como um molusco e uma rocha.
A respiração percorria a clavícula, ressoava no ósculo e como quem ouvia o mar colocando o ouvido em uma conchinha... Sonhou a praia.
Compartilhou o sonho em pedacinhos, homeopaticamente divido em grãos de areia.
Quando já tinham uma grossa quantidade de areia - suficiente para se construir um castelinho e esperar que a lua fizesse seu trabalho - fincaram uma bandeira na torre mais alta do castelo mais bem sedimentado em porções escorridas de água arenosa...
Aí então, sonharam a praia:
Uivaram os ventos nos suspiros ao pé do ouvido,
Sonharam a praia que tão longínqua e perto se assentava.
Caminharam veredas, canos de esgoto, bifurcações metafóricas divididas pela mata atlântica.
Sonharam a praia que tão próxima e ideal se dissipava.
Sentiram o gosto do sal a secar a boca, o encontraram nas maçãs e nas nádegas.
Sonharam a praia ouvindo todas as canções, alegres e descompassadas que embalam e marolam os banhistas, ao fundo, onduladas.
Sentiram o sol queimar todas os poros e portos, estourar melaninas, causar delírios e moleiras.
Sonharam ao sair da praia.
Soltaram-se da pedra, desfizeram-se da concha e guardaram os souvenirs nas caixas de lembrança.
A praia já havia sido sonhada.
Veja lá, a lua já deu cabo do mais suntuoso castelo.
Sonharam a praia.
/_\
Jone / s